Nos últimos três anos, o número de funcionários ao serviço
do Estado português sofreu uma redução de cerca de 10%. Mas esta não é a única
'revolução' que o sector público está a sofrer. O empregador Estado está também
a braços com o afastamento crescente dos jovens. Poucos são os que hoje encaram
uma carreira na Função Pública como aliciante.
Dos
quatro países analisados no estudo, Portugal é aquele onde o afastamento dos
jovens de uma carreira no sector público é maior. Em Portugal 44% dos jovens
encaram como opção de carreira ideal a criação do seu próprio negócio ou um
percurso profissional consolidado no sector privado. O cenário contrasta com o
país vizinho, onde 30% dos jovens consideram “altamente atrativo” trabalhar
para o Estado. Várias são as razões que podem justificar este 'desencanto' dos
jovens portugueses por carreiras no Estado, a que certamente não serão
indiferentes as políticas de redução de emprego público conduzidas pelo
Governo.
http://expressoemprego.pt/noticias/jovens--fogem--do-estado/3684
O
Estado, enquanto empregador, já não atrai os jovens portugueses. A conclusão
resulta de um estudo comparativo focado no posicionamento dos jovens perante o
seu futuro profissional, realizado em Portugal, Espanha, Itália e Grécia,
enquadrado no âmbito da competição de gestão Young Business Talents, promovida
em Portugal pela Nivea. O relatório Young Business Talents, a que o Expresso
Emprego teve acesso, revela que os estudantes pré-universitários portugueses
consideram que trabalhar no sector público é menos apelativo do que uma
carreira no sector privado. Na verdade, só 11% dos jovens portugueses vê o
sector público como uma saída profissional interessante. Um afastamento que
poderá colocar ao Estado, a médio prazo, um problema de gap de competências.
Octávio
de Oliveira, secretário de Estado do Emprego, prefere encarar a questão pelo
seu lado positivo. “A pequena atratividade do empregador Estado aos olhos dos
jovens será um indicador muito interessante de que os jovens estão a perceber
bem as dinâmicas da sociedade e do futuro” e, acrescenta, “a importância do
emprego gerado pelas empresas, e do papel que variáveis como a inovação, o
empreendedorismos e o conhecimento podem ter na geração do emprego”.
O impacto da 'fuga de talento'
Octávio
de Oliveira diz-se convicto de que os jovens portugueses não são indiferentes
às mudanças estruturais ocorridas no país nos últimos anos e não tem dúvidas de
que “terão já percebido que o problema do desemprego não se resolve com mais
emprego público”. Porém, João Bilhim, presidente da Comissão de Recrutamento e
Seleção para a Administração Pública (Cresap), aponta três razões para o
afastamento dos jovens das carreiras no Estado: “há um clima instalado há cerca
de 15 anos propício a denegrir o sector público, como despesista e parasita; o
mercado de trabalho no sector público está fechado e, persistentemente, faz-se
eco de excedentes de trabalhadores e da necessidade de despedir ou
requalificar”.
Destacando
o aspeto positivo da nova geração de profissionais ter um posicionamento mais
empreendedor, o presidente do Cresap confessa-se preocupado com o atual cenário
ainda que “sem exageros”. Confessa que o preocupava mais o anterior cenário,
“em que todos queriam ser funcionários do Estado”, mas reconhece alguma
preocupação com a necessidade que o sector público tem de renovação de quadros.
“Atualmente, por regra, entram apenas 80 novos quadros, oriundos do Curso de
Estudos Avançados em Gestão Pública. Ora, o sector público com as taxas de
aposentação e reforma atuais, corre o risco de perder a sua memória (o seu
passado). Quando isso acontece é muito mais para a cultura organizacional e a
sua eficácia”, realça.
Defensor
de um modelo de sector público capaz de atrair e reter os melhores e mais bem
remunerados, João Bilhim defende que “o sector público precisa de ter poucos,
altamente qualificados e bem pagos”. Essa será para o presidente do Cresap a
forma de o melhorar e de o tornar aliciante aos melhores profissionais, tanto
mais que, como refere, “no passado, o sector público teve muitos e mal pagos,
atualmente já não tem muitos, mas encontram-se assimetricamente distribuídos
(não correspondem às necessidades nem em quantidade, nem em qualidade) e são
muito mal pagos, não desfrutando do prestígio (diferente de poder/autoridade)
que mereciam e que é a base para a sedução de novos candidatos ao sector”.
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