Lúcia Soares é a
partir de agora, vice-presidente de Tecnologias de informação da multinacional
Johnson & Johnson. Filha de emigrantes portugueses naturais das ilhas de
São Jorge e de São Miguel, nos Açores, a luso-americana é um exemplo de
determinação: trabalhou em vários locais para pagar a universidade. Foi um
desses trabalhos, a ajudar a mãe a limpar casas, que lhe abriu as portas para
uma oportunidade que iria mudar a sua vida.
A ascensão de
Lúcia Soares no mundo dos negócios começou quando estudava na universidade e trabalhava
em vários locais para pagar os estudos.
“Um dos trabalhos
que fiz foi ajudar a minha mãe a limpar casas. Um dia estava a falar com o Sr.
Casey, cuja casa estava a limpar, e ele interessou-se pelo que eu estudava e o
que queria fazer. Ele trabalhava na ‘Fujitsu America’, que estava a lançar uma
divisão interativa. Naquela altura, quase nenhuma empresa tinha um site e fui
contratada para aprender a programar HTML”, contou à agência Lusa.
Naquele dia, a
luso-americana estava longe de maginar que limpar casas com a mãe em San José, na
Califórnia, para pagar as despesas da faculdade, mudaria a sua vida e a levaria
até ao topo do mundo empresarial norte-americano.
Filha de
imigrantes da ilha de São Jorge e de São Miguel, que foram para os Estados Unidos
em 1969, Lúcia foi este mês, aos 41 anos, nomeada vice-presidente de Tecnologias
de Informação da multinacional Johnson & Johnson.
Depois daquele
primeiro convite, foi aprendendo mais sobre
tecnologia e decidiu construir a sua carreira nessa área. “Foi como aprender
mais uma língua. Apaixonei-me por ela no meio da excitação do ‘Sillicon Valley’
e do seu espírito inovador”, garantiu à Lusa.
Lúcia
Soares começou por licenciar- se em línguas estrangeiras, na Universidade de
San Jose, completou um mestrado em literatura na Universidade de Santa Cruz, e
quando se voltou para a área dos negócios completou um MBA na Universidade de
San Jose e procurou formação adicional em Harvard.
“Nunca
procurei títulos. Procurei desafios, áreas em que podia expandir a minha
aprendizagem e adquirir mais responsabilidade. Sempre gostei de dar forma a
negócios e, com a minha experiência em tecnologia, esta posição é ideal para as
minhas aspirações”, explicou.
Capacidade de
estratégia e de execução
Quando
Lúcia decidiu juntar- -se à ‘Johnson & Johnson’, em 2002, fê-lo porque a
companhia lhe “dava a oportunidade de juntar tecnologia com cuidados de saúde de
formas que não eram possíveis antes da era da internet”.
“Gosto
de criar possibilidades onde outros acreditam que elas não existem. Gosto da
ideia de dar a uma mãe e a um pai mais tempo com as suas crianças e
entusiasma-me a possibilidade de mais pessoas terem acesso a cuidados de
qualidade. Acredito que áreas como análise estatística avançada, tecnologia
social e ferramentas móveis podem trazer oportunidades que não tínhamos antes”,
explica.
A
multinacional é mais conhecida em Portugal pela sua linha de cuidados para
bebé, incluindo o champô, mas a multinacional, que faturou 74.3 mil milhões
de
dólares no ano passado (cerca de 70 mil milhões de euros) e está presente em
175 países, tem uma vasta área de negócios ligados à tecnologia e saúde, que
inclui medicamentos e material médico. A liderança da empresa diz que a gestora
foi escolhida por ter “um misto de capacidades tecnológicas, de estratégia e de
execução.”
Lúcia cresceu
no norte da Califórnia, onde existe uma grande comunidade de imigrantes
açorianos, e visita Portugal, onde passou a sua lua-de-mel, sempre que pode. “Os
meus pais sempre falaram português em casa, com os cinco filhos. Crescemos a
perceber a nossa língua nativa e a ter um gosto profundo por Portugal, a sua
história e as nossas raízes”, explicou à Lusa.
Em casa, só
português
Em
casa, a gestora só fala português com as duas filhas. “Quando entrei na creche,
não sabia falar inglês, apesar de ter nascido no país e sempre ter vivido nele.
Mas as crianças aprendem línguas extremamente rápido e algumas semanas depois
de começar a escola já sabia inglês suficiente para lidar com os meus colegas”,
garante.
A
luso-americana acredita que ter nascido numa família de imigrantes foi
determinante no seu percurso. “Como os meus pais sabiam em primeira mão o que a
pobreza e falta de educação podiam causar, ensinaram-nos o valor do trabalho
árduo e encorajaram-nos a estudar e seguir as nossas vocações. Sou muito grata
pelos seus sacrifícios”, diz.
Data: 24/04/2015